Fique à vontade! Que bom ter você por aqui de novo. A discussão de hoje mergulha em um ponto crucial que mostra como a saúde do nosso planeta não pode ser apartada da nossa saúde coletiva: o racismo ambiental, a vulnerabilidade social diante dos eventos climáticos e a profunda importância de nos reconectarmos com a natureza através da sustentabilidade. Essa jornada nos levará da urgência dos desafios à sabedoria ancestral, desvendando como cuidar do ambiente e, intrinsecamente, cuidar de nós mesmos.
A Raiz da Vulnerabilidade: Racismo Ambiental e Desigualdades Climáticas
Não podemos falar de eventos climáticos extremos sem abordar uma dolorosa realidade: o racismo ambiental. Este conceito se refere à forma como populações racializadas por processos históricos de desigualdade e violências são desproporcionalmente afetadas por problemas ambientais, como a poluição, a contaminação da água e do solo, e a exposição a desastres naturais. Historicamente, essas comunidades sofrem processos de gentrificação, empurrando-as para áreas de risco cada vez mais afastadas de estruturas sociais complexas, para locais com menos cuidados – encostas instáveis, margens de rios, ou próximas a indústrias poluentes – sem as diversas infraestruturas de arquitetura e urbanismo, ou as tecnologias de saneamento básico adequadas e mesmo sem as tecnologias originárias, que são reiteradamente atacadas.
Quando eventos climáticos extremos, como chuvas torrenciais, secas prolongadas ou ondas de calor avassaladoras, atingem essas regiões, a vulnerabilidade de certas populações se torna cruelmente evidente. Casas precárias são levadas pelas enchentes, a falta de acesso à água potável que pode agravar doenças caso não haja investimento em diferentes tecnologias e a recuperação pós-desastre que normalmente é lenta e desigual. Do ponto de vista comportamental, essa exposição constante a estressores ambientais e a falta de recursos de enfrentamento, muitas vezes, leva ao aprendizado de padrões de desesperança e desamparo aprendido, onde as consequências aversivas do ambiente são inevitáveis, impactando severamente a saúde mental daquela comunidade. A própria dignidade e a liberdade dessas pessoas são cerceadas pela precariedade imposta.
Sustentabilidade: Uma Questão de Bem-Estar e Ação Coletiva
A sustentabilidade como política pública de Estado não é apenas uma pauta ecológica; é uma questão de saúde pública e bem-estar. A conscientização sobre a crise climática pode gerar ansiedade e angústia. No entanto, a ação coletiva e o engajamento em práticas sustentáveis têm um impacto psicológico profundamente positivo no tecido social, como nos aponta a Green FAP, técnica psicoterapêutica que utiliza as relações do tecido social para construção de uma sociedade mais estruturada e sustentável.
Quando comunidades se unem para desenvolver tecnologias limpas, utilizar algumas que já estão consolidadas na história e implementar políticas coletivas objetivas e sustentáveis de reciclagem, sistemas de escoamento de enchentes, telhados verdes ou resfriamento por ventilação natural que amenizam as ondas de calor de cidades “cinzas” ou mesmo técnicas arquitetônicas que adaptam-se à terremotos, elas fortalecem os laços sociais e experimentam um senso de agência coletiva e propósito. Essa colaboração é um poderoso reforçador de comportamentos pró-sociais. É aqui que entram as contingências comportamentais entrelaçadas: as ações de um indivíduo para a sustentabilidade (como separar o lixo) servem de antecedente e consequência para as ações de outros (a vizinha que também passa a separar, e o reconhecimento comunitário que reforça essa prática). Esse encadeamento de comportamentos individuais que se influenciam mutuamente, quando mantido por suas consequências em um nível mais amplo, gera metacontingências, que criam um produto agregado dessas interações como a própria criação de uma política de reciclagem em uma cidade, por exemplo, que pode ser o produto agregado onde comportamentos individuais (descarte correto) são selecionados pelas consequências culturais e ambientais (cidade mais limpa, recursos economizados).
Utilizamos conceitos complexos para descrever o planejamento e execução de projetos de sustentabilidade como contingências comportamentais entrelaçadas (CCE) ou metacontingências, onde o engajamento com valores como a preservação ambiental feito a partir do entrosamento se torna um motor para a ação com seus produtos agregados, onde aceitamos a realidade desafiadora, mas nos comprometemos com ações que reflitam nossos valores.
O Poder da Natureza: Áreas Verdes e Azuis no Manejo do Estresse e o Shinrin-Yoku
A conexão com a natureza é um antídoto poderoso para o estresse. A presença de áreas naturais “verdes e azuis” (matas, parques, rios, lagos), tem um impacto comprovado no manejo do estresse, na redução dos indicadores de ansiedade e na promoção do bem-estar, atuando na prevenção, promoção e recuperação da saúde.
Neurocientificamente, a exposição a ambientes naturais ativa o sistema nervoso parassimpático, responsável pelo relaxamento e recuperação, e pode modular a amígdala, diminuindo as respostas ao estresse. A sabedoria de culturas como a japonesa reconhece profundamente essa conexão através do Shinrin-yoku, a “imersão na floresta” ou “banho de floresta”. Não se trata apenas de caminhar, mas de estar presente, respirar profundamente, absorver os sons, cheiros e a atmosfera da floresta. Essa prática consciente pode induzir um estado de flow através do exercício da atenção plena, onde a pessoa se sente completamente imersa e conectada com o ambiente, experimentando clareza mental e um profundo senso de paz.
A Sabedoria dos Povos Originários: Somos Natureza
Para muitos povos originários e culturas ancestrais, a ideia de que somos “parte da natureza” não é uma metáfora, mas uma verdade vivida e respeitada. Essa sabedoria contrasta com a visão ocidental dominante, que muitas vezes nos coloca como separados e superiores à natureza, vendo-a como um conjunto de recursos a serem estudados e explorados.
A psicologia positiva ganha uma nova dimensão aqui: a gratidão pela natureza, a apreciação da beleza, a busca por significado na interconexão de todas as coisas. A abordagem baseada em forças nos encoraja a reconhecer a força vital que reside na natureza e em nós mesmos, e a usá-la para promover a recuperação e o bem-estar coletivo.
Saúde Pública e Direitos Humanos: Um Chamado à Ação
A perspectiva de saúde pública, alinhada aos princípios do SUS (universalidade, equidade, integralidade e humanidade), reforça que o acesso a um ambiente saudável e seguro é um direito fundamental. As diretrizes da OMS, PAHO e do Ministério da Saúde do Brasil enfatizam a importância da saúde ambiental como pilar da saúde coletiva. A partir da constituição cidadã, o Brasil defende o direito a um ambiente urbano saudável e equitativo, que inclua acesso a áreas verdes e livres de poluição – um ponto crucial na luta contra o racismo ambiental.
Uma História de Resiliência e Conexão: A Comunidade do Córrego Verde
Em um vilarejo próximo a Belo Horizonte, onde o córrego que o nomeava estava poluído e as casas, em áreas de encosta, sofriam com cada chuva mais forte. A ansiedade e a sensação de impotência eram palpáveis. Dona Josefa, 72 anos, via a cada ano as cheias mais fortes e a preocupação com os vizinhos aumentava.
Um projeto de parceria público privada, com apoio da prefeitura e de universidades, chegou à comunidade. Não com soluções prontas, mas com uma escuta ativa e um convite à participação. Profissionais da psicologia e da saúde pública, com um tom cordial e empático, sentaram-se em rodas de conversa. Validaram o sofrimento, a raiva, a frustração.
Aos poucos, a comunidade começou a se organizar. Uma iniciativa inicial, inspirada em princípios da Green FAP e da ABA, foi o “Mutirão Verde”: o objetivo era limpar as margens do córrego e plantar árvores. Dona Josefa, inicialmente cética, foi convidada a participar da organização, e sua sabedoria que aprendeu no terreiro sobre as plantas e o solo local foi um ponto de partida. Ali, ela não estava apenas “trabalhando”, mas reencontrando um propósito, uma dignidade através da ação coletiva.
A ação de limpar o córrego, por mais desafiadora, gerou um senso de agência. Os desafios de coordenar as equipes e lidar com os resíduos eram superados pela negociação e cooperação que emergiram naturalmente. As crianças, livres para ajudar na parte mais segura do mutirão, brincavam enquanto plantavam, criando laços com o ambiente e com os adultos. O flow surgia nos momentos de trabalho em equipe, quando todos estavam imersos na tarefa, sentindo-se parte de algo maior e atentos ao que cada um precisava enquanto completavam suas tarefas.
O ambiente se tornou mais previsível, e com a previsibilidade veio a segurança. As novas árvores e a limpeza do córrego diminuíram o impacto das cheias. A comunidade, que antes vivia sob a ameaça constante, passou a ter um espaço mais seguro para as crianças brincarem e para os adultos se encontrarem. A resiliência coletiva foi testada e fortalecida. O projeto também incluiu oficinas sobre reciclagem, a produção de uma horta coletiva e a importância do consumo consciente, transformando a comunidade em um polo de sustentabilidade e produção. As escolas locais fecharam trabalhos com a cooperativa que foi criada, comprando os alimentos e aproveitando os materiais reciclados nas produções educativas.
A história do Córrego Verde ilustra como a luta contra o racismo ambiental, a promoção da sustentabilidade e a conexão com a natureza se entrelaçam para construir bem-estar e dignidade. É um testemunho de que, ao cuidarmos da Terra, estamos intrinsecamente cuidando de nós mesmos e uns dos outros.
Sua Voz pela Terra e pelo Bem-Estar
Que esta reflexão sobre racismo ambiental, sustentabilidade e a força da natureza tenha potencializado suas forças. É um chamado à ação, à empatia e à consciência de que nosso bem-estar está umbilicalmente ligado ao bem-estar do planeta. Se você quer um projeto, online ou em Belo Horizonte, me contate para podermos avaliar juntos como posso te ajudar a tornar nossa vida melhor.
Qual a sua experiência com a natureza e como ela impacta seu bem-estar? Compartilhe nos comentários abaixo! Curta e compartilhe este texto para que mais pessoas possam se inspirar nessa conexão vital.
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